quinta-feira, 29 de julho de 2010


Saramago por ele mesmo

“A princípio respondia que escrevia para que as pessoas me quisessem bem. Logo esta resposta me pareceu insuficiente e decidi que escrevia porque não me agradava a idéia de ter que morrer. Agora digo, e talvez isso seja certo, que no fundo, escrevo para compreender”.

“Minha arte consiste em tentar mostrar que não existe diferença entre o imaginário e o vivido, o vivido poderia ser imaginado, assim como o contrário”.

(Frases extraídas do jornal O Estado de São Paulo Página H6 Especial de 19/06/2010.)
A equação do futuro

Ano após ano, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) reprova o Brasil no quesito igualdade. O ranking das escolas com melhor desempenho reproduz o abismo da diferença entre a qualidade do ensino oferecido em instituições públicas e privadas. Assim, distancia ainda mais os alunos com a garantia de um futuro bem-sucedido nas universidades dos que engordarão a massa de trabalhadores com escolaridade limitada. O teste final que as avaliações da educação brasileira propõe é como resolver um problema antigo com soluções diferentes e inovadoras.


Para Andreas Schleicher, diretor de Programas de Análise e Indicadores em Educação da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e responsável pelo Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), os dados de verificações como o Enem podem sugerir alguns caminhos. Mas a resposta está mesmo na formulação de um novo modelo de educação, "menos centrado no currículo e mais no aprendiz". "Precisamos entender que a aprendizagem não é um lugar, é uma atividade. Sistemas educacionais precisam reconhecer que os indivíduos aprendem de formas diferentes", diz o físico alemão.

(...)

Como a tecnologia está transformando os antigos modelos de ensino?


Uma palavra-chave para o uso da tecnologia na educação costumava ser o aprendizado "interativo". Agora, ele precisa ser "participativo". E, embora a educação a distância seja uma peça importante da educação no futuro, o ensino permanecerá uma experiência humana. Nas gerações passadas, professores sabiam que o que eles ensinassem duraria por toda a vida do aluno. Hoje, a escola precisa preparar os estudantes para mudanças econômicas e sociais mais rápidas do que nunca, para profissões e tecnologias que não foram inventadas e problemas que ainda não sabemos se surgirão. Como podemos criar uma cultura de educação para a vida inteira e para todas as áreas da vida que atinja a todos? O dilema dos educadores é que as habilidades cognitivas rotineiras, aquelas fáceis de ensinar e de avaliar, são também as mais facilmente digitalizadas, automatizadas e terceirizadas. O sucesso em educação não é mais a reprodução de conteúdo e conhecimento, mas é a capacidade de aplicar esse conhecimento em situações inéditas.

( Trechos do texto extraído do Jornal O Estado de São Paulo / aliás de 26/07/2010.)









quarta-feira, 28 de julho de 2010


Receita de Torrone Italiano

Ao amigo Pazzini


Ingredientes

200 ml de mel
200 ml de água
400g de açúcar
400g de amêndoas tostadas
200g de frutas cristalizadas
6 claras de ovo
6 folhas de hóstia (vendidas em lojas de produtos católicos ou de confeitaria)
1 pitada de sal


Preparo

Em uma panela, junte o açúcar, o mel e a água e deixe ferver até atingir 121°C (se não tiver um termômetro, passe o garfo no caramelo e assopre; se fizer bolha, está no ponto).

Bata as claras em neve com uma pitada de sal. Despeje a calda de açúcar e mel, aos poucos, sem desligar a batedeira. Bata até obter uma mistura firme, feito marshmallow. Desligue a batedeira e, com um espátula, incorpore amêndoas e frutas cristalizadas.

Forre uma assadeira com papel-manteiga e acomode sobre ela um aro de metal. Forre o fundo do aro com folhas de hóstia e despeje ali o torrone, alisando a superfície. Cubra com as folhas de hóstia restantes e pressione levemente. Leve ao freezer até congelar. Retire do aro e corte.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Por um dia de felicidade

Matéria publicada no jornal "O Estado de S. Paulo" de 25/07/2010

Muitas escolas induzem os alunos a se preparar não para a vida, mas para comemorar a data em que saem os resultados dos exames vestibulares.




Quase 14 mil escolas privadas e públicas do País obtiveram média acima do equivalente a 5,0 no desempenho de seus alunos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2009. Apenas algumas dezenas alcançaram nota igual ou superior a 7,0, inferior, porém, a 7,5. Na maioria, escolas privadas e caras. Tidas como o caminho seguro do êxito em exames vestibulares, suas notas estão apenas ligeiramente acima da nota mínima para aprovação em escolas superiores de países desenvolvidos, que é 7,0. Um número imenso de escolas igualmente privadas nem chegou a essa média.


Há nas médias divulgadas indicações para a compreensão dos problemas do nosso ensino médio. A primeira delas é a da problemática tendência de muitas escolas de se reduzirem à pobreza pedagógica de induzir crianças e adolescentes a passarem os melhores anos de suas vidas preparando-se para fazer o vestibular para o ensino superior. Em vez de se devotarem à preparação de seus alunos para a vida e para serem felizes, que é o que dá sentido à educação e à socialização dos imaturos, dedicam-se prioritariamente a prepará-los para um único dia de felicidade, o da divulgação dos resultados dos exames vestibulares. Inseguros quanto ao futuro dos filhos, os pais tornam-se cúmplices dessa deformação. Muitos desses alunos chegarão à universidade, até com as melhores notas de ingresso, mas não saberão nem o que fazer nela nem o que fazer com ela.


Nem se pode dizer que o melancólico êxito nessas médias mais altas expresse a apropriada formação de quem as obtém. Ficou evidente que escolas que preparam seus alunos para a reflexão criativa e para a competência interpretativa, que se mede no desempenho em redação e interpretação de textos, têm menos visibilidade na avaliação oficial. De certo modo, as notas escondem um desencontro entre ensino predominantemente de formação e ensino predominantemente de informação.



Matéria publicada em caderno especial deste jornal, aliás, mostra que as escolas da capital de São Paulo cujos alunos tiveram melhor desempenho são apenas 12% melhores do que as de desempenho menor, enquanto o preço das mensalidades é 254% maior. Os dados do Enem revelam que pagar mais não significa comprar melhor, até porque, em educação, comprar é pura ilusão.Nem por isso ficam as escolas públicas justificadas no desempenho menor nessa avaliação nacional. Certamente, as escolas caríssimas, porque apresentam desempenho inferior ao que delas se espera, não servem de parâmetro para medir o que deveria ser a escola pública. A escola pública, entre nós, deveria ser o instrumento de uma revolução na educação, que nos trouxesse para os requisitos educacionais da sociedade moderna e seus valores referenciais, como a democracia, a liberdade, o conhecimento amplo e denso, a responsabilidade social de cada um.


fatores extraescolares nos resultados das diferentes escolas. O que nelas se consegue está também relacionado com o modo de vida da família do estudante. Escolas com melhor desempenho têm majoritariamente alunos de alta classe média, cujos pais são usuários dos equipamentos culturais disponíveis nos seus respectivos ambientes. Atividades complementares às da sala de aula, no acesso aos equipamentos culturais externos à escola, como museus, teatros, salas de concertos, excursões investigativas, poderiam dar ao estudante um apoio compensatório até melhor do que obtêm na própria família os alunos mais bem situados socialmente. O professor e o aluno de escolas públicas teriam que deixar de ser prisioneiros da sala de aula. Outra verificação recente mostra, ainda, que escolas de bom desempenho estão situadas em municípios menores, onde ainda há uma cultura comunitária, muito mais apreço pelo professor e maior integração entre a família e a escola. O que assegura a boa formação escolar é, pois, também o tradicionalismo de um mundo em que ainda são comunitários, e afetivos, os valores de referência da educação.


José de Souza Martins é professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e autor, entre outros livros, de A aparição do demônio na fábrica (editora 34).

terça-feira, 20 de julho de 2010



Texto enviado a mim pelo amigo Márcio

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente
do que já vivi até agora.
Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas.
As primeiras, ela chupou displicente, mas percebendo que faltavam poucas, roeu até o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram,
cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.
Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir assuntos inúteis
sobre vias alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas,
que apesar da idade cronológica, são imaturas.

Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo
de secretário geral do coral.
Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou "as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos".
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência,
minha alma tem pressa...

Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana,
muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos,
não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende
a dignidade dos marginalizados, e deseja tão somente andar ao lado de Deus.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.

O essencial faz a vida valer a pena.

Basta o essencial!

(O texto acima circula pela internet, sendo a autoria atribuída a diversos autores, entre eles Rubem Alves. O verdadeiro autor é Ricardo Gondim)

segunda-feira, 19 de julho de 2010

As coisas que a literatura pode buscar


“As coisas que a literatura pode buscar e ensinar são poucas, mas insubstituíveis: a maneira de olhar o próximo e a si próprios, de relacionar fatos pessoais e fatos gerais de atribuir valor a pequenas coisas ou grandes, de considerar os próprios limites e vícios e os dos outros, de encontrar as proporções da vida e o lugar do amor nela, e sua força e seu ritmo, e o lugar da morte, o modo de pensar ou de não pensar nela; a literatura pode ensinar a dureza, a piedade, a tristeza, a ironia, a humor e muitas outras coisas assim necessárias e difíceis. O resto, que se vá aprender em algum outro lugar, da ciência, da história, da vida, como nós todos temos de ir aprender continuamente.”
Texto extraido do verso da capa do livro " Assunto encerrado - Discursos sobre literatura e sociedade." de Italo Calvino - Companhia das Letras 2009 1ª Edição.