quinta-feira, 9 de setembro de 2010

INVESTIGANDO CONCEITOS


Assumir o que se é e ter plena consciência da capacidade própria não é soberba, nem arrogância.
E o que seria a soberba? Ainda conforme Espinosa, em sua proposição de número 57 na Obra Ética , podemos ler: "A soberba é uma alegria que surge porque o homem tem, de si, uma opinião acima da justa (...). Por isso, os soberbos amarão a presença dos parasitas ou dos aduladores (...) e fugirão da presença dos nobres, que têm, deles, a opnião exata".


O termo arrogância, vale dizer, vem do latim ad rogare, e significa "tomar como próprio". Arrogante, neste sentido, não é aquele que sabe do que é capaz, nem tampouco aquele que tem consciência de seu próprio valor sem precisar de aduladores. Arrogante é aquele que toma tudo como próprio, que leva para o pessoal, colocando-se como centro gravitacional de um mundo que pretensamente o orbita. Do mesmo modo, não pode ser pretensioso aquele que sabe do que é capaz. Pretensioso é aquele que, sabendo-se despreparado para algo, mesmo assim imprudentemente ousa, cheio de certeza de que logrará êxito.


Desde a juventude, somos contaminados com os deveres desta humanidade supostamente virtuosa, que nos conduz a sentir culpa por nossas capacidades e talentos. A cena que ora descrevo não é nada, nada incomum: um aluno pergunta para o outro sobre como foi a prova. E o amigo responde que foi bem, que acha ter obtido a nota entre 8 e 10."Metido!", responde o interlocutor. E a ofensa será repetida, sobretudo se for verificada que, de fato, o outro tirou nota máxima. Note-se o disparate: a suposta falta de humildade aqui deriva justamente da consciência do que se é capaz. "Humildade" e "modéstia" passam a ser a arte de ocultar deliberadamente as próprias capacidades, medindo-se por baixo e sentindo vergonha de ser quem se é. Não é raro que jovens e brilhantes estudantes se esforcem para parecer menos inteligentes, a fim de não serem considerados "pouco humildes". Para Espinosa, a consciência do que somos capazes de fazer não é soberba, a não ser que você precise de bajulação e adulação para reforçar sua suposta capacidade. Afinal, se você precisa de bajulação é porque, na verdade, você não sabe realmente do que é capaz. Falta-lhe segurança e efetiva consciência.



"A modéstia é a humildade de um hipócrita que pede perdão pelos seus méritos aos que não têm nenhum" Schopenhauer.


( Trechos extraídos do texto Belas Palavras, vícios velados por Alexey Dodsworth/ Revista Filosofia/ Editora Escala/ pags.12 e 13 filosofia/Ano III, nº35.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário