sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Ausência de limite condunde, diz Psicóloga

Cada vez mais a publicidade se volta às crianças, que ainda não têm condições de atribuir valor às coisas .

Para educadores e psicólogos, a diminuição das barreiras entre o mundo adulto e o mundo infantil provoca uma confusão do papel e do lugar da criança na sociedade.

Surgem, assim, crianças "adultizadas" e, anos depois, adultos "infantilizados"."

Quando você pula uma etapa da vida, essa etapa volta, em algum outro momento", afirma Rosely Sayão, psicóloga e colunista da Folha.

O acesso indiscriminado a conteúdo adulto na TV, internet, nos jogos eletrônicos e o consumo são alguns dos principais responsáveis por esse processo. Se é impossível -e até indesejável- barrar completamente o acesso à mídia e às novas tecnologias, o ideal é que haja um acompanhamento e controle dos pais, dizem especialistas.

"Se uma criança vê uma cena de novela ou um trecho do jornal, os adultos devem conversar, explicar o contexto, deixar claro o que é certo e errado, o que é do universo dos adultos e o que diz respeito à criança", afirma a educadora Maria Ângela Barbato, professora da PUC-SP.

Mas isso nem sempre acontece. "Os pais têm pouco tempo com os filhos. É mais fácil deixar a criança fazer o que quiser", ressalta Rosely.

"A família precisa ter um conjunto de valores muito sólidos e passar isso de forma clara para as crianças", afirma a socióloga e educadora Gisela Wajskop, diretora do instituto de pedagogia Singularidades. "É a única forma de não ceder aos apelos do mercado", completa.


Para ela, negociar o uso dos meios de comunicação e jogos eletrônicos, em vez de simplesmente proibir, tem papel importante na educação, pois estabelece limites e permite que a criança reconheça a autoridade dos pais.

"Quando a criança e o adulto têm o mesmo poder de decisão sobre o que será consumido, o tipo de atividade que a família vai fazer, há uma grande confusão de papéis. Os adultos é que devem dar as regras do jogo", diz.
O apelo da publicidade, que mira cada vez mais o público infantil, é outro tema ao qual os pais precisam ficar atentos, de acordo com especialistas ouvidos pela Folha."Em vez de criarmos cidadãos, estamos formando pequenos consumidores. Só que as crianças não estão prontas para isso, não sabem atribuir valor às coisas", afirma Laís Fontenelle, coordenadora de educação do Instituto Alana, ONG que combate o consumismo infantil. "Isso é tarefa dos pais", diz."

O ato de comprar vira um jogo, e as crianças não dão valor ao objeto da compra. A escolha do que vai ser consumido deve ser sempre dos pais", defende Rosely.


(Matéria Publicada na Folha de S. Paulo, Cotidiano, C3 de 10/10/2010, por Letícia de Castro)

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