terça-feira, 22 de fevereiro de 2011


O LAMPEJO


A IDÉIA DE REVELAÇÃO


Como sabemos o que sabemos? Pela razão, sentidos, percepção, revelação ou lembrança? E quanto aos fatos que parecem não se enquadrar nesses métodos? Santo Agostinho tinha uma resposta convincente.

As experiências místicas tendem a ser banais para aqueles que não as vivenciaram. Por isso ás idéias dos místicos não são enunciadas neste livro. Mas Santo Agostinho não era místico. Sua idéia daquilo que é chamado de ‘revelação’ não implica nenhuma experiência extraordinária e se traduz na admissão de que é pela compreensão mental que podemos atingir o conhecimento que ultrapassa a razão ou os sentidos – as idéias. Santo Agostinho acreditava que Deus coloca as idéias em nossa mente. Essas idéias abrangem os axiomas matemáticos ou a existência de idéias como a beleza ou a bondade, ou mesmo a existência de Deus.

O santo descreveu a revelação como validação, ocorrendo “ no âmago de meus pensamentos, sem ajuda da boca ou da língua ou qualquer som silábico “. Isso indica à maneira como ele teve a idéia. Sua colocação aponta para um aprofundamento de autopercepção induzido pelo hábito da leitura silenciosa – uma pratica então considerada rara e misteriosa. A personalidade do santo também ajudou a moldar esse raciocínio.

Como tantas outras pessoas geniais, santo Agostinho era seletivo e humilde , e considerava inadequado compreender sem ajuda os mistérios da vida. Sendo assim, o que era ininteligível para sua própria capacidade metal tinha de ser iluminado por lampejos de Deus.
Platão tinha uma teoria semelhante: afirmava que o conhecimento é inato e que nos tornamos cientes dele pela rememoração.
A finalidade da instrução é, portanto, levar-nos a lembrar o que sabemos.
Na verdade, essa parece ter sido uma idéia grega para ‘verdade’ é aletheia – “coisas não esquecidas.

Mas afirmar que recuperamos o conhecimento a partir de nosso próprio âmago, por meio de nosso próprio esforço, é algo muito diferente de confir ans impressões vindas d fora. Sem pretender fazê-lo, santo Agostinho criou uma licença intelectual para que os místicos representassem seus delírios como revelações.

Esse foi um problema sério para o cristianismo. Tanto quanto a razão, a experiência, as escrituras e a tradição, havia outra forma de adquirir conhecimento – o canal exclusivo de cada indivíduo, entre ele mesmo e Deus. O misticismo fora praticado pelos cristãos desde a época dos apóstolos – são Paulo descreveu o que lhe pareceu serem experiências místicas. Mas o propósito dos transportes místicos sempre fora conseguir a sensação de união com Deus, uma auto-identificação emocional com a natureza amorosa divina. A idéia de santo Agostinho tornou possível receber mensagens explícitas que podiam entrar em conflito com a Igreja. Esta teve de policiar o misticismo; o ocidental podia ser uma questão de meditação, e o “misticismo da natureza” nunca ganhou o respeito intelectual.

“Observei que a sabedoria é mais proveitosa do que a insensatez, assim como a luz é mais que as trevas.” Eclesiastes 2,13

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